domingo, 27 de fevereiro de 2011

Katatonia – Hangar 110 – 27/02/11

De alguns anos para cá, os produtores de shows internacionais finalmente acordaram para uma realidade: existem lugares menores e mais acessíveis para a realização de determinados shows que fatalmente não lotariam as grandes casas, o que tornaria suas vindas impossíveis. Com isso, temos tido a oportunidade de assistir bandas com uma, duas décadas de estrada nas costas, mas que nunca haviam aportado em nossas terras. O Katatonia fazia parte dessa lista de monstros sagrados, os quais ainda não podíamos ter tido o indescritível prazer de presenciar. Ícone do Doom Metal a vinte anos, com uma legião de fãs que, confesso, me surpreendeu em número (não havia mais onde enfiar uma alma naquela multidão que se espremeu na mirrada pista do Hangar), e acredito que posso afirmar: se fosse num local um pouco maior, o público teria sido maior também. Mas o que me surpreendeu verdadeiramente (e aqui coloco: MUITO OBRIGADO por essa sensação causada!) foi ver como esses caras, após tanto tempo de estrada, tocando um estilo que passa longe das massas se degladiando de tanto agitar na platéia, conseguem transmitir tanto tesão ao executar suas músicas! Uma precisão, uma pegada, uma interatividade com o público de fazer inveja a muita banda! E isso nitidamente se refletiu no público que, já não bastasse a espera de anos, estava presenciando uma banda adorando o que fazia ali. Tive a oportunidade de ver Iced Earth e Lacuna Coil ano passado, duas bandas que acredito que se encaixem perfeitamente na lista sugerida no início dessa resenha, e o que identifiquei nos músicos de ambas foi justamente essa emoção de estarem sendo recebidos com tanto entusiasmo e energia pelo nosso público. E o Katatonia não fez a menor questão de esconder isso, pois em todos os momentos possíveis algum dos músicos estava falando com o público, agradecendo, entregando garrafas de água ou latas de cerveja. Respeito retribuído.


Infelizmente o show em si teve sérios problemas em seu início, até por volta da sexta música, onde os microfones de backing vocal e as guitarras falhavam a um nível muito acima do aceito em qualquer parte do mundo. Logo na segunda música o show parecia que havia sido paralisado, tamanha foi a demora para se colocar tudo de volta em condições dos músicos desempenharem seu papel. Mas, esquecendo isso, o que se presenciou nessa noite inesquecível foram 19 músicas, distribuídas entre todas as fases da banda (outro ponto a ressaltar: o cuidado que tiveram ao montar o set list, com material desde o início de seu trabalho, já que essa era a 1ª passagem deles por aqui), executadas de forma primorosa! A fidelidade com o som do estúdio é incrível, só que com a pegada, força, energia e interpretações de uma grande execução ao vivo. Day&then the Shade foi a escolhida para abrir. Linda. Na sequência Liberation e então o clássico My Twin. De arrepiar. Onward Into Battle e então aquela que para mim é a mais marcante: The Longest Year. Sim, música do último álbum, para os “reais fãs” nunca uma música de um último álbum pode ser considerada a melhor, mas a primazia que esses caras demonstraram com a gravação do Night is the New Day para mim é incrível. E essa música é uma obra prima! Cantei seu refrão com lágrimas nos olhos! Depois disso, o que se ouviu foi uma sequência digna de entrar para a história como uma das melhores de todos os tempos: Soil`s Song (execução sensacional), Omerta (hino), Teargas (fantástica), Saw You Drown, Idle Blood (linda ao vivo!), Ghost of the Sun (porrada), Evidence, Criminals (para bater cabeça um pouco) e finalmente July (clássico!). Nesse momento a banda saiu do palco, mas todos ali sabiam ainda ter um pouco mais daquilo tudo nos esperando. Voltaram com For My Demons, Forsaker (que pancada ao vivo!), Leaders. E aí, para fechar, como eles mesmos disseram ”Vamos voltar ao nosso tempo de adolescentes”: Without God e Murder, para saciar aqueles que acompanham os caras desde as primeiras toscas e sensacionais composições, com letras que contestavam daquela forma infantil Deus e tudo que o cerca, mas que não pode ser retirado do contexto em momento algum na estrada de nenhuma das grandes do estilo.

Eu poderia resumir isso tudo numa única palavra: inesquecível. Uma noite para ficar marcada na memória de todo Doom Banger existente. Um monstro aportou, finalmente, em nossas terras. E nos presenteou com algo jamais inferior a aquilo que todos nós sonhamos um dia. Confesso estar bem difícil de ouvir outra coisa que não seja os vídeos desse show. Talvez numa tentativa de fazer essa noite ímpar durar o quanto der. THIS night is our new Day!


Para encerrar, o que os próprios disseram sobre essa noite, em sua página no Facebook: WOW Brazil! You guys proved to be the loudest bunch on the whole tour! Rarely have we seen such passion and enthusiasm in the audience from the start till the end and its not often we get our own monitors completely drowned by a choir in the audience. Sao Paolo, we love you...